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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Critica: Amor (Amour)



Uma densa historia sincera, sensível e angustiante sobre o amor. Em todas as conotações que ele assume.
Desde a 'Vida é Bela', é a primeira vez que um filme de língua não inglesa concorre a categorias tão importantes no Oscar. 

‘Amour’, filme austríaco do diretor Michael Haneke, concorre aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz no Oscar 2013.

Contando com um enredo aparentemente simples o filme nos leva as profundezas dos sentimentos humanos e nos brinda com um filme coeso, e tristemente belo.

George e Anne (Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva) são um casal de idosos, aposentados, que vivem tranquilamente num apartamento. Anne que quando mais jovem era professora de piano, vai com George prestigiar um de seus pupilos num concerto musical.
Alguns dias depois porem, Anne sofre um AVC, o que coloca sua vida e de seu marido num desafio continuo e diário para fortalecer o amor entre eles.

Logo de inicio, o filme nos mostra uma cena em que espectadores estão numa sala de concerto, voltados de frente para nós que assistimos ao filme, como se o espetáculo fossem nós e não eles. Isso revela bastante sobre a força de Amor sobre seu publico. Aliado a um roteiro bem estrutura onde os diálogos são essenciais para a trama, o filme constrói um arco dramático que em momento algum cai em clichês ou artifícios vazios e apelativos para mostrar o sofrimento do casal diante da atual situação deles. O sentimento de angustia e sensibilidade, surge a partir de experiências pessoais de quem assiste, identificando-se ali e refletindo sobre a vida a dois- seja de que forma for-.

Com segurança o diretor nos conduz ate uma questão mais seria e delicada de forma natural que é a eutanásia. Ate que ponto, devemos prolongar o sofrimento de alguém quando esse alguém decide partir?
O titulo apesar de parecer bem bobo, é totalmente condizente ao centro do filme. Pois tudo o que sustenta a película é justamente esse sentimento, demonstrado por silêncios dispersos, desenhos expostos na sala de estar da casa, ou mesmo no olhar de ambos.

A construção de personagens também é muito importante ao logo do filme, que recorre desde montagens sutis e edição lenta para compor com calma cada detalhe da direção de arte do filme que usa de artifícios repletos de metáforas e referencias que fazem um paralelo com os diálogos e lembranças das personagens, ate a trilha sonora quase inexistente, mas que quando atua produz no espectador um aperto na garganta entre a tristeza e a simpatia.

Um filme agridoce, que ao mesmo tempo que causa ternura pela relação ali exposta, também entristece e choca, pela crueza que é exposto a vitimização causada por um AVC.
E aqui a atuação brilhante e assustadoramente realista de Emmanuelle Riva (mais velha atriz a ser indicada a categoria de Melhor Atriz no Oscar) vem á tona. Num trabalho vocacional, corporal fantástico. Ela consegue compor a personagem e suas limitações cotidianas e sua melancolia e angustia por se tornar dependente do marido de uma maneira tal, que é impossível não aplaudir de pé seu desempenho ao final da projeção.

A fotografia apagada e escura- devido ao fato de que o filme se passa completamente em ambientes internos- ajudam a compor a sensação de que estamos visualizando realmente a vida intima de alguém. Muitas vezes nos sentimos intrusos de uma realidade ao qual não fomos convidados. E isso é soberbo.

Personagens como a Filha do casal ou mesmo o jovem pupilo apenas mencionado no inicio do filme e que faz uma pequena visita ao casal, servem apenas para construir e determinar a vida em que o casal esta inserido. E não é difícil imaginar- ou se identificar para aqueles que já vivem tal realidade- a forma que nossas relações vão adquirindo ao longo dos anos. Distanciamentos mas elos firmes.

Cenas memoráveis compõe o filme como a cena em que Anne é levada para tomar banho, a cena em que Anne e George conversam na cozinha, em que ele relembra um episódio de sua infância, e a cena em que uma pomba entra pela janela aberta do apartamento.
Metáforas tais como a da pomba tornam o filme uma pequena joia entre os lançamentos de 2012, que com certeza merece ser visto e sentido, chorado e refletido acerca de inúmeras questões sobre a vida.
Vide sequencia em que Anne folheia o antigo álbum de fotografias.

Mas é em seu clímax que esta uma resolução que coloca em xeque todo o enredo de acordo com a opinião pessoal de cada um que o assiste. Um clímax chocante, inesperado, mas estritamente necessário, que é o ponto final que torna o filme um pequeno deleite e obra prima. Ali o julgamento cabe ao espectador, igualmente ao seu entendimento do final da projeção.

Ao final, uma carta fecha como um signo, um símbolo mais que perfeito a toda a trama, encerrando Amor da maneira qual foi composto: com sinceridade, crueza e beleza.

Um filme Intrínseco que se justifica pelo silencio de um apartamento vazio, morto mas com rachaduras repleta de vidas.

Trailer



Ficha Técnica

Diretor: Michael Haneke
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell, Ramón Agirre, Rita Blanco,
Produção: Stefan Arndt, Margaret Ménégoz
Roteiro: Michael Haneke
Fotografia: Darius Khondji
Duração: 127 min.
Ano: 2012
País: França, Alemanha, Áustria
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos




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