Pages

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Critica: Anna Karenina


"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira".


Na Rússia de 1874, Anna Karenina (Keira Knightley), jovem aristocrata casada com Karenin (Jude Law), um alto funcionário do governo, envolve-se com o Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson), oficial da cavalaria filho da Condessa Vronsky (Olivia Williams), chocando a alta sociedade de São Petersburgo.

Anna Karenina é um romance do escritor russo Liev Tolstói, publicado entre 1873 e 1877. É uma das obras-primas do autor, ao lado de Guerra e Paz.

A trama da obra gira em torno do caso extra-conjugal da personagem que dá título à obra, uma aristocrata da Rússia Czarista que, a despeito de parecer ter tudo (beleza, riqueza, popularidade e um filho amado), sente-se vazia até encontrar o impetuoso oficial Conde Vronski.

No decorrer da obra, também são tratadas questões importantes da vida no campo na Rússia da época, onde algumas personagens debatem a respeito das melhores maneiras de gerir suas propriedades de terras, bem como o tratamento com os camponeses, então chamados de mujiques.

Com direção de Joe Wright, Anna Karenina surge com um encanto cinematográfico, de beleza, requinte, exasperada técnica visual e cenográfica e a consolidação de uma parceria eficaz e a confirmação de que Keira Knightley nasceu para a Aristocracia de época.

Em Orgulho e Preconceito, soberba obra adaptada por Wright pros cinemas, a parceria dele com Keira, já era evidente. O entendimento de diretor e atriz em tela transborda. Em cada detalhe desta produção é possível ver a nostálgica e incisiva visão de Wright sobre a aristocracia. A trama que já esconde criticas ao sistema de classes da época da sociedade russa, aqui ganha ares mais modestos, mas não pouco assertivos.
É um jogo interminável de regras a se seguir, razão versus fé e os bons costumes que permeiam todo o longa.

Ao contrario do que se possa pensar, o orçamento de Wright para este longa foi mais modesto do que o próprio imaginava possuir. Para burlar esse empecilho, o diretor buscou nos velhos e sempre funcionais, manejos cinematográficos o chamado “truque” a inspiração e solução.

Anna Kerenina surge impecavelmente visual. Um espetáculo de cenas, planos e sequencias, com uma fotografia vibrante e delineada, cuidadosamente pincelada, como se fossem inúmeras pinturas de fato. O figurino repleto de detalhes, e sempre majestosos tanto nas costuras como nas cores e modelos também agregam esse espetáculo. Mas é a escolha de trazer a linguagem teatral e dramática dos palcos que transforma Anna Kerenina numa pequena joia a ser levada em consideração.

O roteiro assinado por Tom Stoppard constrói uma personagem extremamente aflitiva e vazia. Anna é vazia em sua vida perfeita. Ao seu redor tudo corre bem, mas algo dentro dela, parece querer se encontrar, ter paz. Essa paz vem com o interesse imediato que tem e recíproco pelo Conde Vronski. Mas ao mesmo tempo que este interesse cresce e lhe dá algum sentido interno, ele o vai a destruindo, emocionalmente, posteriormente socialmente, fisicamente e psicologicamente. Ela vai caindo numa alteração descontrolada de humor e estado de espírito que lhe dá ares de psicose em alguns momentos. O descontrole emocional é pontuado pelas cores escuras e por uma montagem que faz referencia as maquinações de trem.
Quando o descontrole dá vazão ao desequilíbrio, o filme adota a velha técnica dos espelhos e superfícies refletivas para expressar isso.

Como não possuía grande verba, a solução encontrada pela produção do longa foi utilizar como cenário e locação primário, um antigo teatro. Ali a maior parte das cenas são rodadas, onde o palco e o teatro se adaptam e se transforma de acordo com a o que a situação pede. Vemos despretensiosamente atores servindo de figurantes, trocando de roupa em frente à tela, carregando os pedaços dos cenários e os dispondo em cena para transformar a locação.

Um quarto vira uma cafeteria em minutos, tudo encenado de forma extremamente teatral, com passos e sonoplastia compassados. Ate mesmo maquetes são usadas.
Algumas cenas memoráveis compõe o enredo como as cenas em que os atores surgem imóveis ao redor enquanto apenas um personagem se move entre eles.

Uma sequencia em particular é digna de aplausos, numa construção de cena memorável de dança, onde a câmera percorre os pares de dança numa montagem frenética e uma edição sincronizada, com um som exasperado, junto a uma trilha sonora que cativa e mantém a atenção do espectador apreensiva a todo instante. Ate mesmo uma cena particular de sexo simulado como se fosse uma dança de balé contemporâneo é bem encenada e de bom gosto dentro da narrativa. É lindo de se apreciar.

As poucas cenas externas se dão justamente no núcleo de apoio encabeçado pelos personagens Konstantin Levin e Kitty, que são responsáveis assim como na Obra de Tolstói, pela parcela moral e reflexiva social do longa.

Mas é Keira Knightley e Jude Law que se apresentam impecáveis em seus papeis. Mais uma vez, Keira prova que nasceu para personificar personagens dessa época. É de tamanha naturalidade seu timing aristocrático, nos trejeitos, na fala, ate mesmo fisicamente ela parece se enquadrar àquela época. Mas pó ser possuidora de um talento reconhecível, em nenhum momento o espectador a compara com seus antigos papeis semelhantes de época.
Alias para o bem e para o mal, Keira possui tamanha simpatia em seu olhar que é impossível realmente desgostar de sua personagem, mesmo que Anna surja irritável a todo instante.

Jude Law também empresta a seu personagem um controle ambíguo impressionante. Como se seu personagem se controlasse a todo o momento para não explodir de vez. Ele intensifica isso ao lhe dar um TOC de estalar os dedos das mãos que realmente compõe o personagem muito bem.

Por fim, Anna Kerenina possui mais acertos do que erros, mesmo que estes existam – como o ritmo por vezes lento e arrastado demais, mesmo que o filme possua pouco menos de 2 horas de projeção- são insignificantes diante da interessante composição narrativa que ele nos oferece.
Este esta longe de ser a melhor das obras de Joe Wright, mas definitivamente se faz enxergar e valer.

Trailer




Ficha Técnica
   
Diretor: Joe Wright
Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Kelly Macdonald, Matthew Macfadyen, Olivia Williams, Michelle Dockery, Emily Watson, Holliday Grainger, Ruth Wilson,
Produção: Tim Bevan, Paul Webster
Roteiro: Tom Stoppard
Fotografia: Seamus McGarvey
Trilha Sonora: Dario Marianelli
Ano: 2012
País: Reino Unido, França
Gênero: Drama














0 comentários:

Postar um comentário