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sábado, 12 de janeiro de 2013

Critica: A Feiticeira da Guerra ( Rebelle )




Em algum lugar da África Central, Komona (Rachel Mwanza) é uma adolescente de 14 anos, grávida. Ela conta a seu filho, ainda no ventre, a história de sua vida em meio à guerra, desde que foi raptada pelo exército rebelde, aos 12 anos.

Com essa premissa o filme inicia uma saga envolta em miséria, violência, caos e tristeza do inicio ao fim, num ambiente inóspito de uma vida sofrida e que pode muito bem ser a realidade de centenas de Komona sem face ou nome.

Logo na primeira sequência o diretor Kim Nguyen, demonstra que não quer que sua Obra “Rebelle”(no Brasil; “A Feiticeira da Guerra”) se torne um ode ao terror e uma critica essencialmente social a guerra. O filme parece focar na ideia do que tais ações produzem na vida de seus cidadãos e como tais “rebeldes” ditos e vistos como vilões sem futuro ou humanidade, são mais vitimas de um sistema tenebroso do que realmente vilões por escolha.

Com narração em off Komona, interpretada pela jovem atriz Rachel Mwanza que sustenta seu papel pesado de maneira natural e muito interessante; surge narrando como se fosse uma leitura de uma espécie de diário, sua vida desde que foi capturada pelos rebeldes em sua aldeia, forçada a lutar ao lado deles numa guerra sem nome e sem real sentido para ela- ou para nos espectadores-. Qual guerra que esta sendo retratada não é importante ali. 
Ou melhor: A guerra maior esta entre ela Komona e a vida. Sua sobrevivência.

Ela narra sua historia para seu filho ainda em sua barriga, afim dele entender plenamente o que causou sua vinda a este mundo e quem ela realmente foi antes dele nascer.
O filme então nos leva a captura violenta e aterrorizante de Komona onde ela é obrigada a matar seus próprios pais, com apenas 12 anos de idade. Ali ela já conhece um dos rebeldes, o Mágico, um garoto negro albino poucos anos mais velho que ela, que lidera os rebeldes soldados e tem ares místicos, na crença deles de que ele tem poderes de proteção.

O roteiro que tem uma estrutura solida, pouco antes do segundo ato de projeção já nos mostra a crueldade física e emocional e psicológica com o qual tais crianças são forçadas a estar. Seja no manuseio de armas de fogo que são ensinadas a idolatrar como se fossem seus novos pais, ou seja, pela narração de komona numa monotonia alarmante, contando sobre suas dores, espancamentos, lagrimas e submissão a drogas alucinógenas. Não há distinção de soldado mulher ou homem. Todos são tratados da mesma maneira.

O titulo – no Brasil – se refere a uma característica/crença que adotam com relação a Komona, quando ela se torna a única sobrevivente em batalha dos ‘irmãos’ capturados de sua aldeia. Sempre que ela é submetida a seiva de uma arvore, com a qual os rebeldes drogam as crianças, ela tem visões de espíritos e fantasmas que lhe alertam sobre o perigo, lhe salvando assim muitas vezes de levar uma bala na cabeça. Por conta disso os rebeldes e o líder deles “o Grande Tigre” elevam Komona como uma feiticeira. Eles creem que ela tem contato com forças sobrenaturais que os ajudaram a vencer a guerra.

No meio da narrativa Komona naturalmente se apaixona por Mágico e estes fogem juntos para tentarem ter uma vida normal. A partir daqui, qualquer coisa contada a mais sobre o filme estragaria a experiência instigante e incômoda porem bela de A Feiticeira da Guerra.

O filme utiliza-se de montagens  rápidas, na maioria das vezes com planos baixos e abertos, numa fotografia clara, mas que demonstra sua delicadeza nas cenas dos fantasmas. Alias a maneira que escolheram caracterizar tais ‘aparições’ é bem interessante. Ainda conta com uma trilha sonora delicada que em certos momentos ajudam a compor o cenário agridoce, quase bucólico da projeção.

Mas é interessante como o enredo, utiliza o artificio de abrandar a narrativa de maneira agridoce, inserindo uma saga momentânea de busca por uma Galo Branco. Essa escolha da direção é um acerto tremendo, e que diz muito sobre cada um dos personagens envolvidos ali.

A Feiticeira da Guerra promove uma reflexão dura sobre os efeitos da violência imposta em pessoas que passam de vitimas a vilões, sem ter escolha de mudar seus destinos. Komona é um exemplo disso. Ela vai perdendo o brilho da infância em apenas 3 anos que decorrem do inicio do longa ate seu final. 

Conseguimos enxergar a criança na voz e em alguns momentos raros de riso nervoso. Mas o olhar revela uma mulher sofrida que tenta resgatar e segurar uma esperança vazia que nem ela mesma mais sabe se existe ou se não passa de uma feitiçaria inventada por séculos de desilusões e condenações simplesmente por nascer.

O filme é triste, chocante, pesado, mas necessário. A direção segura, sem muita inventividade é verdade de Kim, criou um filme grande e simples que merece ter sua devida atenção. 

Não só a de estar entre os indicados a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2013 como esta, mas a atenção de uma realidade viva entre as florestas, armas, sangue e crenças perdidas ao redor do mundo. seja em plena guerra nacional ou nas guerras cotidianas da esquina e dos becos de nossos próprios bairros.
Quantas "Feiticeiras" e "Mágicos" não existem por ai? Através da Janela de nossas casas?

E é com Kim Nguyen e Rachel Mwanza que esta a resposta.

 Trailer



Ficha Técnica

Diretor: Kim Nguyen
Elenco: Rachel Mwanza, Alain Lino Mic Eli Bastien, Serge Kanyinda, Mizinga Mwinga, Ralph Prosper, Jean Kabuya, Diane Uwamahoro, Jupiter Bokondji, Starlette Mathata,
Produção: Pierre Even, Marie-Claude Poulin
Roteiro: Kim Nguyen
Fotografia: Nicolas Bolduc
Duração: 90 min.
Ano: 2012
País: Canadá
Gênero: Drama










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