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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Critica: The Paperboy (Um Rapaz do Sul)


Lee Daniels nos entrega uma obra densa, tensa, repleta de imprevisibilidade, instigante, que choca, aterroriza, nos leva as gargalhadas e ao mesmo tempo impressiona, pela crueza e bizarrice imposta totalmente coesa com sua proposta.

Um show bizarro e visualmente belo. Essa seria a palavra para The PaperBoy. Repleto de cenas chocantes, que carregam a visão animalesca do ser humano em passagens e trechos que se mesclam com a natureza lamacenta de um sul americano intolerante e abafado.

Com direção segura sem medo de erros, Daniels nos leva com perspicácia num Ode ao suspense policial clássico, mas com um toque de cinema pastelão em seus momentos mais inventivos. Matthew McConaughey surge como o misterioso Jornalista investigativo que ao lado de seu parceiro/amigo Yardley (David Oyelowo) um negro bem sucedido para a época  visam encontrar provas que provem a inocência de um famigerado homem condenado a cadeira elétrica pelo assassinato de um xerife local. Sua namorada, ao qual conhece apenas por cartas, a sedutora decadente Charlotte Bless ( Nicole Kidman), os contrata para juntos tirarem seu “homem” Hillary Van Wetter (John Cusack) da prisão. Com o apoio paralelo do ex-nadador e irmão mais novo de Ward (Mattehew), Jack (Zac Efron) eles partem rumo a uma investigação repleta de furos enquanto Jack vaio nutrindo uma paixão incondicional por Charlotte.
Tudo isso é narrado pela segura Macy Gray que trabalhou e ajudou a criar os irmãos Jack e Ward.

O trabalho visual desse filme é uma das coisas mais gostosas de se conferir. Adotando uma filmagem com uma fotografia repleta de luz e cores saturadas, em alguns momentos granuladas demais o que culmina numa imagem que nos remete a películas antigas da década de 60/70 o filme ainda nos brinda com uma trilha sonora de beco, repleta de Swing.

O longa passeia entre o mundo negro e o mundo branco decadente tão subdividido daquela época  contendo em falas e olhares a discriminação latente, onde palavras e sentenças eram de máxima importância para não passarem a ideia errada.

Numa construção de roteiro impecável, o longa estrutura seus atos de forma delineada, com o auxilio de uma montagem curiosa e bem feita, repleta de efeitos visuais, fusões e uma edição com cortes secos que instigam ainda mais a curiosidade do espectador e também inevitavelmente seu asco e choque em diversos momentos.

Há uma cena de sexo extremamente desprovida de qualquer pudor, que usa montagens em flashs de animais em decomposição enquanto o sexo rola brutalmente de maneira desajeitada quase absurda. Se ao primeiro momento ele causa hilaridade  depois se torna chocante e incomodo tamanha violência que é exasperada ali. Isso é brilhante da parte do diretor.

Do inicio ao fim, The Paperboy constrói uma narrativa rumo as perspectivas de cada personagem e do meio em que vivem. A pretensão do filme não é educar ou mesmo criticar – diretamente- o sistema judiciário, que é o pano de fundo da trama, nem mesmo  trabalho de integridade nos fatos da imprensa  Mas sim, cair fundo na reflexão e discussão das tormentas de cada personagem tão peculiar apresentados La. Personagens que buscam uma redenção cujo qual nem eles mesmos sabem definir qual é.

 Cada persona de The PaperBoy parece estar a procura de algo que eles mesmo não sabem definir. É uma insatisfação latentes em seus olhares cabisbaixos e mortos. Mesmos os sorrisos carregam certa melancolia. A degradação social e física e emocional é clara.

Seja na Mulher submissa, com baixo auto estima, sexy e selvagem que vai decaindo sobre as próprias escolhas, seja pelo garoto que viu seu sonho frustrado diante de um átimo de fúria pela perda da mãe, seja por um homem repleto de segredos que odeia a si mesmo ao ser quem é, seja por um outro homem que deseja se provar diante da intolerância imposta pela sociedade.

A todo momento o espectador é levado a crer em uma verdade que no momento seguinte se torna uma duvidosa mentira. E em seguida algo a se considerar novamente.

E o longa nesse sentido não nos polpa de cair fundo nesse cenário quase caótico interno e externo. Ele externaliza esses sentimentos em tela, seja mostrando uma ejaculação nas calças de um preso, uma mulher indo ao orgasmo em se tocar, seja um garoto sendo queimado por águas vivas e sendo em seguida mijado por uma mulher em plena praia, seja por uma faca rasgando e expondo as tripas de um jacaré recém abatido. The PaperBoy não polpa seu espectador de realidades cruas e feias, bizarras, para chocar e nos preparar para exatamente aquilo tudo que seu clímax arrebatador e imprevisível nos guarda.

O sexo e sensualidade aqui é usada e abusado, mas não como artificio para excitar, mas para compor ainda mais a sensação de degeneração que o longa adota para o meio e seus personagens. Zac Efron surge exalando um sex apple extremo, que quando junta com o de Nicole, explode em tela. Mas é notável constatar como o diretor se contem em privar o expectador justamente do momento prometido entre ambos. ficando apenas em nosso imaginário o que resultaria tal ato. Justamente para que as cenas seguintes surjam com mais impacto.

E importante salientar aqui um dos melhores papeis de Nicole Kidman em muitos anos. Tanto seu personagem quanto a atriz se doam completamente numa personificação marcante, que diverte, seduz e entristece, emociona pela decadência exposta de maneira tão cativante e cruel. Um papel grande que merecia e merece ser mais lembrado e aplaudido. A tal ponto que todos os outros atores - que fazem bonito, estando corretos em seus papeis -  ficam ligeiramente ofuscados pela simples menção de seu nome em cena. um trabalho realmente primoroso e que impressiona.

Por fim, The PaperBoy se revela mais uma preciosidade de Lee Daniels. Menor em sua produção e alcance, mas enorme na sua capacidade de demonstrar arte pura em um contexto soberbo. Um ótimo filme.


Trailer


Ficha técnica

Diretor: Lee Daniels
Elenco: Zac Efron, John Cusack, Nicole Kidman, Matthew McConaughey, Scott Glenn, Beau Brasseaux, Nikolette Noel, David Oyelowo, Ned Bellamy, Katarzyna Wolejnio,
Produção: Ed Cathell III, Lee Daniels, Cassian Elwes, Hilary Shor
Roteiro: Peter Dextel
Fotografia: Roberto Schaefer
Trilha Sonora: Mario Grigorov
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama













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