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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Critica: Poesia (Poetry/Shi)


Mija (Jeong-hee Yoon) é uma simpática sexagenária que vive com seu neto adolescente num pequeno apartamento no interior da Coreia do Sul. Como sua aposentadoria não é suficiente, ela complementa a renda mensal como empregada doméstica de um senhor com dificuldades de locomoção. E ainda assim encontra tempo e energia para fazer um curso de Poesia. Elegante, Mija sempre ostenta um invejável sorriso, até o dia em que o suicídio de uma colega de seu neto vai desencadear uma série de acontecimentos que abalarão o até então sossegado cotidiano de Mija.

Poesia (Shi , nome original) filme do sul coreano Chang-Dong Lee, remonta as melodramas antigos do cinema, e cria uma fabula densa, extremamente bela e como seu titulo, poética e de extrema tristeza.

Logo no inicio da projeção, nos deparamos com uma cena de um grande rio, com águas turvas, ligeiramente calmas.  Aos poucos o cenário aparentemente tranquilo revela um corpo sem vida boiando no rio e em seguida há um corte para uma gramado a beira do rio com algumas crianças brincando.

Essa imagem já sintetiza o que o espectador deve se preparar para ver. Apesar do nome Poesia sugerir algo delicado e lírico, o que vemos em tela é uma sucessão de acontecimentos brutais, mas que surgem de maneira tão esmerados que se tornam belas. É o dito ”há beleza na feiura”.

O filme se engrandece ao olhar do espectador ao ser conduzido através dos olhos da Bondosa e elegante Mija, uma senhora no alto de seus sessenta anos de idade, que cria sozinha seu neto. Neto este que não lhe dá valor algum, é desleixado, fechado para com a avó, enquanto ela por sua vez se dedica amorosamente a ele a todo o momento. Vemos a rotina de Mija, que sempre se produz cuidadosamente. Mesmo que beire a pobreza, Mija sustenta sua vaidade de maneira natural.

Aos poucos somos impelidos a conhecer seus problemas financeiros, seu árduo trabalho para sua idade de cuidar de um senhor que sofreu um derrame, ao qual ela recebe para lhe dar banho, alimentar e vestir. Mas toda e qualquer dificuldade de Mija não transparece em seu rosto expressivo. Ela sempre demonstra ter um sorriso no rosto e um sentido de observação latente. Ela se interessa pelos mínimos barulhos e movimentos.
Nada mais é, do que uma mulher redescobrindo o mundo.

Redescoberta essa que ela resolve resgatar se inscrevendo num curso de poesia. Onde visa aprender a escrever uma poesia.

O roteiro de Lee Chang-dong apesar de extremamente coeso e bem desenvolvido em sua narrativa, nos conduzindo através dos detalhes pela trama que vai se desenvolvendo naturalmente, comete apenas um equivoco, ao introduzir o Alzheimer no enredo e esquece-lo ironicamente na maior parte do tempo. Logo no inicio, Mija é diagnosticada com Alzheimer  Isso já é evidente através de alguns diálogos da personagem que continuamente esquece algumas palavras no meio de uma conversa. Porem assim que ela recebe o diagnostico esse detalhe do esquecimento nela, desaparece por completo, como se ela não tivesse a doença. Ao qual só retorna no começo do terceiro ato, próximo ao clímax final.

Dizer qualquer coisa sobre a trama, além disso é estragar a experiência de assistir Poesia.

Isso porque como na poesia, o filme vai se revelando e se formando de maneira gradativa, repleto de surpresas, carregadas de beleza e melancolia.

O longa vai desmembrando a vida de Mija, numa atuação sensacional da atriz veterana Yun Jeong Hee - que tem em seu invejável currículo nada menos do que mais de 200 filmes -, num Ode ao caos. Seja pelas dividas que surgem, seja pelo segredo que o neto esconde, seja pela doença descoberta, seja por uma proposta do senhor a quem cuida, seja pela dificuldade que ela encontra em escrever uma poesia.

De forma quase metalinguística o filme vai entrando numa crescente de metáforas e simbolismos que culminam numa Obra peculiar que se engrandece aos olhos e sentidos.

O mundo ao seu redor se mostra gananciosa, ardiloso e cruel, repleto de hipocrisia e injustiças, onde ainda assim, aos olhos de Mija, ela tenta ver beleza e realmente enxerga-lo da maneira correta.

Com um final arrebatador, Poesia é de fato uma poesia fílmica em cada detalhe, desde sua trilha sonora delicada, ate sua fotografia com cores marcantes e planos contemplativos.

Como na cena extremamente bem conduzida de Mija agachada em prantos diante de um solo com pedras reflexivas que lembram a superfície de um rio.

Um deleite.

Trailer




FICHA TÉCNICA

Diretor: Chang-dong Lee
Elenco: Yun Jeong Hee , Jung-hee Yoon, Hira Kim, Da-wit Lee
Produção: Lee Chang-dong
Roteiro: Lee Chang-dong
Fotografia: Hyun Seok Kim
Duração: 139 min.
Ano: 2010
País: Coréia do Sul
Gênero: Drama











4 comentários:

Gostei de como você colocou as palavras para definir o filme, é exatamente assim que eu penso: Pode até ser trágico, mas é lindo.
Gosto muito desse filme, mas acho que poderia ser melhor explorado. É muito bonito ver essa força de vontade da personagem principal, mesmo com todas as dificuldades ela seguiu vivendo essa poesia. Parabéns pela crítica, ótima!

Valeu Leandra! pelos comentários de sempre e pelo carinho *__*

parabens amigo conheci esse filme hoje e pesquisando achei sua excelente resenha muito bom

parabens amigo conheci esse filme hoje e pesquisando achei sua excelente resenha muito bom

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