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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Critica: A Vida em Um Dia



Produzido pelos irmãos Ridley e Tony Scott, e dirigido pelo mesmo diretor de O Ultimo Rei da Escócia, Kevin Macdonald, “A Vida em Um dia” é um experimento que tinha tudo para não ser nada alem de algo interessante, mas que conseguiu ir além, e se tornar um filme surpreendentemente coeso.

O projeto consistia em pedir para varias pessoas ao redor do mundo enviar vídeos de um único dia - 24 de julho de 2010 – em suas vidas. Só isso.

A partir disso, os cineastas se proporiam a receber todos os vídeos, em que formato e em qual duração fosse, e compilar tudo num único documentário.

Apesar dessa premissa demonstrar uma ousadia enorme, mas sem muitas esperanças de ser nada alem de uma sucessão de imagens dispersas em tela, o que o filme consegue fazer é criar não só uma narrativa eficaz, como elaborar uma técnica de enredo e estrutura invejável e impressionante.

A começar pela fotografia que é lindíssima e bem trabalhada ao nos colocar diante de cada país e cultura de acordo com as cores tratadas em tela. Se levarmos em conta que estamos falando de mais de 192 países em diversos vídeos com mais de 4.200 horas de gravações com qualidades que vão desde uma super câmera profissional ate a câmera de um celular, e tudo isso conseguir ser saturado num único tom é admirável. A fotografia segue uma linha lógica de acordo com o que é mostrado em tela, compreendendo a cultura que esta sendo mostrada e principalmente o tempo.

O filme é dividido em três atos (a principio tem se a sensação de que são apenas dois, pela ausência de clímax).  Por vezes o ar documental dá vazão a uma estrutura fílmica quase ficcional que contribuem de maneira eficaz a trama, não deixando o longa disperso.

Durante pouco mais de uma hora e meia, somos levados durante um dia inteiro na vida de varias pessoas diferentes ao redor do mundo mas que se assemelham como qualquer ser humano. Ha culturas, dialetos, costumes, sentimentos, medos e vitorias todos incluídos num único contexto com N interpretações. Bonito de se ver e impressionante de se constatar quanta diversidade existe no mundo ao redor independente do nosso, da nossa casa. Como ainda existem culturas que aos nossos olhos podem parecer injustas ou atrasadas mas que se revelam nada mais do que uma historia própria.

Do segundo ato em diante, quando começam os depoimentos em uma edição rápida e com cortes secos, onde um casal sem falar, fazem perguntas através de cartazes, e numa montagem recorrente vão se obtendo respostas às perguntas, como: 

“O que é amor para você? "
"O que você mais ama?" – 

trazendo a tona reflexões e pensamentos interessantes.

Alguns textos ali arrebatam e faz o espectador refletir. Surgem inclusive teorias interessantes sociologicamente falando. Nisso o longa cria um paralelo entre a ficção e o real que aproxima e dialogo diretamente com o espectador que se reconhece em tela e mais ainda, se descobre.

Há um pai que desmaia ao ver o parto do filho, há um rapaz apaixonado pela melhor amiga tentando reunir coragem para se declarar, há um jovem atleta que vive uma vida desregrada com pequenos furtos, há um pai solteiro que cuida de seu filho num cubículo e reza para a esposa falecida todas as manhãs, há o garoto que se barbeia pela primeira vez, há o jovem que espia uma estranha bela pela janela do metro sem ela saber, há o nascimento de uma girafa e o sacrifício de um animal, há os sonhos de um camponês e a destruição da vida de um empresário, há a pobreza, há o neto criando coragem para revelar sua sexualidade, há o respeito a cultura de um povo, há um pedido de casamento e a filosofia de uma jovem em um carro escuro, no fim do dia.

É realmente um primor o que conseguiram fazer com retalhos de vídeos e diversas narrativas numa única unidade fílmica. Tornando o documentário coerente. Isso é claro é resultado de uma montagem eficaz e inteligente, e de uma edição perspicaz e criativa.

Conseguir criar um enredo, trama e narrativa independente não é fácil, nem mesmo em projetos ficcionais com planejamento; e conseguir isso através de um projeto experimental que tinha tudo para dar errado, é mais impressionante ainda.

O que se obtém é um documentário fomentado e que definitivamente não é apenas mais um.
Um filme que possui uma experiência que se mostrou eficaz.

Assim, A Vida em Um Dia vale bela beleza e crueza que nos proporciona, numa visão que transcende os estúdios cinematográficos e cria um filme do mundo, sobre si mesmo.

*O Longa pode ser visualizado gratuitamente na própria pagina do projeto no Youtube. >> life in a day << Através do recurso "CC" ligado no player é possível visualizar com legendas em Português, porém o melhor é obter o longa devidamente legendado, já que esse recurso as vezes apresenta falhas.

Trailer



FICHA TÉCNICA

Diretor: Kevin Macdonald
Elenco: Cindy Baer, Caryn Waechter, Hiroaki Aikawa, Bob Liginski Jr., Drake Shannon, Ashley Meeks, David Jacques, Cec Marquez, Arsen Grigoryan, Christopher Brian Heerdt, Ester Brymova, Boris Grishkevich, Jaap Dijkstra, Ranja Kamal, Teagan Bentley, Shahin Najafipour, Jaap Dijkstra, Shir Decker, Lilit Movsisyan, Ayman El Gazwy, Catherine Liginski, Jane Haubrich, Fredeik Boje Mortensen, Ildikó Zöldi, Amelie Sara Kukucska, Cristina Bocchialini.
Produção: Ann Lynch
Fotografia: Soma Helmi
Trilha Sonora: Harry Gregson-Williams, Matthew Herbert
Duração: 95 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Documentário
Classificação: Livre








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