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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Critica: A Caça


"Você terá de esperar um pouco, mas os animais voltarão”. 




Caça é a perseguição de um animal a outro ou de um ser humano a outro, normalmente com intenção de abate. É uma prática usada pelos animais carnívoros ou omnívoros para obtenção de alimento. Muitas espécies utilizam a caça, cada qual com técnica especializada levando em conta as características físicas do animal caçador e da presa. Geralmente usam emboscadas, perseguição em velocidade e/ou trabalho em grupo, sempre visando, dentre os possíveis alvos, os mais frágeis, como animais velhos, doentes ou recém-nascidos.

Caça humana 

O Homem também utiliza a caça. Antes da civilização, esta era a principal fonte de alimento de muitos dos grupos humanos. Porém, a expansão populacional e o desenvolvimento da civilização tornaram o extrativismo natural – a coleta, a caça e a pesca – insuficientes para o abastecimento da população. A obtenção dos alimentos é provida primordialmente pela agricultura e pela pecuária, tendo a pesca resistido até os dias de hoje, atingindo escala industrial.
Embora a caça por sustento ainda resista até os dias de hoje, ela ocorre em pequenas comunidades isoladas, como algumas tribos indígenas, por exemplo. Outra modalidade de caça, a esportiva, ganhou importância com o passar dos séculos.

Caça Esportiva

Esta modalidade de caçada não visa a obtenção de alimentos, mas a conservação de tradições, a emoção da perseguição e ou do abate, entre outras.
Com a extinção ou ameaça de extinção de algumas espécies, foi necessária a criação de normas reguladoras da caça, que só é permitida em locais determinados, para certas espécies, em épocas determinadas e em quantidade limitada. Em alguns países, a proibição é total.

'Jagten', que em tradução livre do dinamarquês para o português seria algo do tipo "procurar", e veio traduzido sob o titulo de A Caça para o Brasil é o mais recente filme do diretor Thomas Vinterberg e não só faz jus a dualidade do nome, como proporciona um retrato assustador da sociedade, numa critica intensa sobre moral, ética e atribuições de valores.

Mads Mikkelsen é Lucas, um recreador numa creche dentro de uma comunidade da Dinamarca. Extremamente bondoso e sociável  Lucas é amigo de todos e mantém uma relação de amizade e afeto com todas as crianças e moradores da comunidade. Recém divorciado e morando só apenas com sua cachorra Fanny, Lucas vive frustrado por não conseguir manter muito contato direto com seu único filho, devido ao divorcio conflituoso.
Um dia, Lucas vê sua vida virar de cabeça para baixo quando uma das alunas da creche no qual trabalha, vai ate a diretora da instituição e diz que Lucas lhe mostrou o órgão sexual. A partir daí um ode de ódio e discriminação se sucede por todos os moradores e Lucas se vê perdido.

Com uma narrativa densa desde o principio, o filme nos carrega dentro de uma atmosfera contemplativa, com ritmo lento em todo seu primeiro ato de preparação. Quando o filme recai sobre o segundo ato, a tensão e o choque dominam a tela. São suessões de julgamentos de frieza, de ataque, de degradação que chocam o espectador por fazer parte do nosso dia a dia, mas que mal enxergamos.

Lucas é tirado de sua propria vida e imediatamente julgado e condenado por todos, por seu melhor amigo, por sua namorada, por sua ex-esposa, colegas e desconhecidos. São olhos e dedos acusadores no mercado onde ele não pode mais entrar ou mesmo na igreja onde sempre foi rezar.

Vemos em tela o como julgamentos pre estabelecidos podem subjugar toda uma figura de um Homem a ponto dele se transformar num verdadeiro arremedo de tudo que fora antes.

Quando uma criança inocente lhe diz que alguém lhe fez mal, em quem acreditar? Na criança ou no adulto?
A verdade, os fatos, importa diante disso? Qual seria nossa posição diante de algo assim?

O filme é competente em criar uma teia de acontecimentos e situações que nos deixem a merce de nós mesmos. É claro - e isso não é 'spoiler'- que Klara a menina que acusa Lucas do ato proibido, conta a historia após uma contrariedade por parte de Lucas. Porem resta a duvida: mas o que aconteceu de verdade? ate que ponto o abuso foi real ou apenas imaginação de uma criança confusa e irritada?

Porem a maior reflexão do filme é conseguir bater fundo nas nossas emoções ao nos colocar diante de um espelho, de um verdadeiro teto de vidro espelhado fincado em raízes tão profundas de preceitos e preconceitos de nós mesmo, que incomoda, enraivece, causa náusea moral.

Aliado a uma fotografia quase monocromática que parece nos estabelecer continuamente no Outono - ainda que o roteiro seja pontuado por passagens de tempo distintas como o inverno, o natal..- o que causa ainda mais a sensação de peso e melancolia.

A critica e reflexão se estende desde os pais inábeis da menina, à conduta inadequada que o irmão mais velho adota diante dela. São elementos e mais elementos desconstruídos ao longo do filme que mostram como é fácil e cruel criar um labirinto de equívocos e desambiguação social.

A metáfora que também é usada de forma literal, para o ato da caça - a comunidade é formada por caçadores, todos legalizados, homens que aprendem a caçar na temporada de caça a partir dos 16 anos de idade, quando viram 'homens' de fato dentro de sua cultura-;. Lucas nada mais é do que mais um cervo diante do abate. sem chance de luta ou defesa. São armas, pedras e martelos lhe massacrando, perseguindo e caçando a espreita, por todos os lados.

Ele é transformado de um dia para o outro de caçador a caça, num bicho, que deve ser exterminado.
Não por acaso o diretor brilhantemente nos conduz a um final triste e assustador.

E Mads Mikkelsen esta extremamente impressionante no papel de 'caça' aqui. É notável perceber seu olhar antes afável ir se desconstruindo a ponto de vermos uma morte em vida, ao lhe ser tirado cada pedaço de orgulho e sentido de vida. Atuação essa que lhe rendeu o premio de Melhor Ator no Festival de Cannes.


A procura pela justiça - legal e moral - é continuamente testada, e deixada em segundo plano. O que vale é a verdade e a certeza absoluta que esta na palma da mão de cada um.

"Lá na frente esta o alvo que se arrisca pela linha
Não é tão diferente do que eu já fui um dia
se vai ficar, se vai passar? Não sei!
E num piscar de olhos lembro o tanto que falei, deixei, calei, e não me importei- mas não tem nada!
Eu tava mesmo errada.
cada um em seu casulo, em sua direção
vendo de camarote a novela da vida alheia. Sugerindo soluções, discutindo relações
Bem certos de que a verdade cabe na palma da mão.
Mas isso não é uma questão de opinião. E isso, é só uma questão de opinião."



Esse trecho sintetiza bem os valores do filme.
Pesado, cruel, intenso, bem elaborado, eficiente e real.

Num panorama onde não verdadeiros vilões além de nós mesmos representados por cada personagem ali em tela, o filme ainda conta com elenco afiado.

Um tapa na cara, ou um tiro de espingarda em quem esta na mira e segura o rifle mesmo assim.
Bom filme.

Trailer


Ficha Técnica: 

Diretor: Thomas Vinterberg
Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp, Lasse Fogelstrøm, Susse Wold, Anne Louise Hassing, Lars Ranthe, Alexandra Rapaport, Ole Dupont, Rikke Bergmann, Katrine Brygmann, Allan Wibor Christensen,
Produção: Sisse Graum Jørgensen, Morten Kaufmann, Thomas Vintenerg
Roteiro: Thomas Vinterberg, Tobias Lindholm
Fotografia: Charlotte Bruus Christensen
Trilha Sonora: Nikolaj Egelund
Duração: 115 min.
Ano: 2012
País: Dinamarca
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos










2 comentários:

Esse filme é fantástico! Não é somente nos Estados Unidos de onde sai filmes intrigantes. Parabéns pelo Blog também Willian! Muito bom...

abraço

marcelokeiser.blogspot.com.br

Valeu marcelo!! ^^ vou dar uma passada no seu blog tbm! abração :)

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