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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ozymandias

"Eu encontrei um viajante de uma antiga terra
Que disse:—Duas imensas e destroncadas pernas de pedra
Erguem-se no deserto. Perto delas na areia
Meio enterrada, jaz uma viseira despedaçada, cuja fronte
E lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor bem suas paixões leu
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,
A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou.(...)”



Esta é minha primeira analise sobre Breaking Bad oficial aqui no blog. O plano é resgatar cada episodio e fornecer uma analise de cada um deles.
Mas o plano precisa esperar, por que o que não dá para evitar é não escrever sobre este episodio que seja talvez o melhor episodio de uma serie televisa já feita na historia.
Exagero? De forma alguma.
Breaking Bad desde sua estreia em 2008 tem se mostrado evolutivamente uma das maiores series da televisão, não só americana, mas mundiais. A sua orla de fãs e admiradores não só cresce a cada instante como o vicio por tal também. E isso se explica unicamente pelo fato de Breaking Bad estar para as series como O Poderoso Chefão esta para o Cinema.
Esta serie criado por Vince Gilligan, colocou o áudio visual seriado num patamar de excelência e competência jamais vista ate então. Talvez se consiga comparar neste quesito a Mad Man, The Sopranos e ate talvez The Wire. Mas não. Breaking Bad antes mesmo de chegar ao seu derradeiro fim esperado- e lamentado- para o próximo dia 29 de setembro de 2013, conseguiu neste quinta e ultima temporada, alçar um voo solo, irresoluto diretamente ao topo da cadeia evolutiva de obras primas. Seja pelo nível de atuações apresentadas, pelo nível de tensão, de coesão e esmero no roteiro impecável, nos planos e fotografias, nas aliterações, metáforas, simbolismos, referencias, construção de personagens e trama, na narrativa esmeradamente tecida e costurada, em suas cores, direção de arte, produção e direção exemplar que colocam em pouco mais de 45 minutos cada episodio uma posição de igualdade plena com as maiores obras fílmicas já realizadas do cinema.

O episodio que foi escrito por Moira Walley-Beckett e dirigido por Rian Johnso, inicia-se já atípico. A serie nos conduz por um flashback que nunca foi mostrado, diretamente para a primeira temporada, em uma época em que tudo começava a desandar – quando Walter decidiu de fato aderir a vida da produção de metanfetamina- mas ao mesmo tempo em que tudo era mais fácil. A cena é exemplar como condutora de preparação para pontos chaves na trama que se segue durante o episodio. Logo em seguida, somos transbordados direto para onde o episodio antecessor nos deixou, em meio a um tiroteio.
Sabemos o que nos espera, mas isso não impede que a tensão construída seja enorme a ponto de causar vertigem no espectador e apreensão a cada milímetro de segundo transcorrido.

E toda a sequência é dirigida com maestria, seja pelos enquadramentos, que sempre enfocam seus personagens de acordo com sua importância na hora da cena, seja pelo uso de angulações e desfoques propícios, ate mesmo a trilha sonora com destaque aos ruídos externos.
E aqui em 20 minutos é exemplar a constatação de que estamos ‘vendo’ um roteiro impecável em cada sentido de palavra escrita e executada. Falas marcantes para atuações dignas de Tony’s Awars.
Walter White cai, para Heisenberg emergir das sombras e dominar vida.
O fulgor destrutivo traz nosso protagonista que de herói passou diretamente para vilão, como um verdadeiro demônio. E isso é explicitado não só pelas sombras e cores, olhares e ações, mas através de simbolismos que o colocam diante de uma cruz (no episodio anterior) o barrando, e aqui com uma carcaça de um animal com chifres, aludindo a sua natureza demoníaca.

 Evitarei spoilers, e na realidade a analise virá futuramente, mas como admirador extasiado precisava registrar este dia que ficara conhecido historicamente; por isso basta dizer que as cenas seguintes são literalmente de tirar o fôlego.

 Assim sendo, deixo um link, dois na realidade, de varias opiniões de críticos e publico sobre o melhor episodio de serie da historia.  >> metacritic
O outro link é uma analise mais detalhada com imagens do Pablo Villaça repleta de spoilers. >> S05E14

No mais; este post de caráter apenas de registro, serve ainda para ser um agradecimento. Para qualquer cinéfilo, aspirante a critico e estudante de cinema, um cineasta em formação como eu, constatar que a arte da sétima arte consegue chegar a um patamar extenso não só no formato cinema como Breaking Bad e seus realizadores chegaram e nos demonstram num grau de profissionalismo e talento inimagináveis, chega a emocionar. É lindo de se ver, sentir e chorar por isso. De emoção entregue, as belezas que somente o cinema conseguem te fornecer. Aplausos de pé.



“(...) E no pedestal aparecem estas palavras:
"Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplem as minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!"
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas espalham-se para longe."

Resta saber: Como terminará essa saga épica e quem de nos estará vivo ou minimamente psicologicamente e emocionalmente estáveis para assistir?


Ps: único defeito de Breaking Bad encontrado nesses 5 anos: Não passar em tela gigante em salas de cinema.

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