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sábado, 28 de novembro de 2015

Crítica: O Pequeno Príncipe


''O essencial é invisível aos olhos.''



''Só se vê bem com o coração.''
''Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.''

Tais frases icônicas, permanecem desde 1943 no imaginário de milhares de pessoas ao redor do mundo. Sejam crianças ou adultos, O Pequeno Príncipe escrito pelo escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, é considerado um dos livros mais famosos da historia da literatura. Considerado também infantil; ele é uma das raras exceções em que seu publico alvo se subverte para se tornar universal, devido a riqueza de parábolas e metáforas com a vida adulta que o livro trás.
Em 1974, o cinema se arriscou a produzir uma adaptação do livro. Dirigido por
Stanley Donen; o filme que apostou numa especie de comedia musical, trazia Gene Wilder no elenco.
Veja o trailer abaixo:



Dessa vez, o diretor Mark Osborne, apoiado pelo roteiro de Irena Brignull, arriscaram em trazer o "Pequeno" novamente às telas grandes, mas desta vez em forma de animação.

Nessa nova animação, uma garota acaba de se mudar com a mãe, uma controladora obsessiva que deseja definir antecipadamente todos os passos da filha para que ela seja aprovada em uma escola conceituada. Entretanto, um acidente provocado por seu vizinho faz com que a hélice de um avião abra um enorme buraco em sua casa. Curiosa em saber como o objeto parou ali, ela decide investigar. Logo conhece e se torna amiga de seu novo vizinho, um senhor que lhe conta a história de um pequeno príncipe que vive em um asteroide com sua rosa e, um dia, se encontrou com ele - um aviador perdido no deserto do Saara -  em plena Terra.

O primeiro que tem que se dizer sobre essa animação, é que ao contrario do que possa parecer aos saudosista e aos novos admiradores do principezinho, o filme não é uma adaptação do livro. Na realidade não é nem mesmo uma versão. Pois, a historia do Príncipe é apenas base para empurrar e estruturar a narrativa que é sobre a historia da pequena garota. Assim, essa animação, na realidade, é baseada no livro.
Isso é importante para que não se crie a expectativa lúdica de que a experiencia em tela sera a mesma do livro.

Dito isso, é muito interessante e valida a maneira que a roteirista escolheu de calcar a jornada da garota rumo a descoberta do que é ser adulto, através da historia do pequeno príncipe.

O que o roteiro quis, foi fazer uma reflexão paralela das ideologias de Antoine, com a vida real. Quase adotando um sentido religioso e de fé ao Príncipe nesse sentido. Pois o velho aviador parece crer que a existência do pequeno é o que o sustenta para aguentar a vida cotidiana tão pesada e as vezes cruel. Nesse ponto é interessante o fato de que o aviador velho da animação, seja o mesmo aviador narrador do livro e que por excelência seja o próprio Antoine num universo paralelo onde ele envelheceu ate esta tenra idade e tenha conhecida uma pequena garota simpática e curiosa.
Isso porque o velho aviador da historia, não apresenta o pequeno príncipe para a garota, como se fosse uma historia que ele ouviu e esta repassando. Mas, como uma historia que ele viveu, ele escreveu e desenhou. a construção logica do roteiro peca em alguns diálogos, como por exemplo o uso de uma fala da garota, que é extremamente inteligente e racional, e problematiza o fato de não ser possível que o aviador tenha encontrado um garoto no deserto. Por que crianças não poderiam sobreviver tanto tempo naquele ambiente inóspito e porque pelo seu conhecimento da escola, não havia evidencias de vida em planetas pequenos. Ela então diz que a unica possibilidade era se ele viesse de uma estrela. Ora, estrelas são corpos quentes, onde ali sim, não poderia haver vida. Esse detalhe pequeno e irrelevante, mas que mostra um desleixo na construção da logica da personagem, cuja a logica é justamente sua principal característica.

A animação ainda traz um visual incrível.

A vida real da garota é representada em computação gráfica. A cidade, os adultos, os carros, tudo em linhas de simetria extrema, retas, sem ''imaginação alguma''. Cores cinzas e opacas, numa unilinearidade sóbria e sem vida. Tudo em constante movimento mas, sem sentimento. Sem riso ou alegria.

A exceção é justamente a casa do velho aviador. Disforme, repleta de cores vivas, que contrasta absurdamente com o cinza da urbanidade. É interessante esse cuidado com a direção de arte. Representar a metáfora da vida adulta tão "chata" aos olhos na ideologia do Livro com a construção da arte aqui.
Já o velho que não se esqueceu como é ser criança mantém a cor em seu dia a dia, e por isso é visto como louco biruta pela sociedade geral. Que não o entende e nem o aceita. Eles tem medo do velho.

Mas, o real encanto fica por conta da animação em stop motion, que representa a história paralela do príncipe. O aviador narra a história para a garota e vemos o desenrolar em um stop motion rico em detalhes e fluidez de movimento. É fascinante.

E aqui, inclusive o entendimento artístico do universo da obra pra realidade é satisfatório. Uma vez que a computação, justamente seria a tecnologia humana, do adulto humano artificializando o natural. E o que seria a fantasia fantástica do mundo do pequeno príncipe, com o stop motion tão clássico e originário do cinema em seus primórdios. Esse detalhe é bonito de se constatar.

No entanto, o maior problema do filme está no não entendimento aparente ou na ambição furada de não compreender a mensagem simplista que o livro trás. Sim, suas mazelas são complexas. Tanto que conquistam adultos até hoje. Mas sua mensagem base é simples. É imaginativa. É utópica.
E o filme aqui tenta racionalizar essa mensagem a partir do segundo ato.
A sensação que fica é a de que ironicamente, o melhor do filme é justamente sua técnica regrada e ''adulta'', e não seu roteiro, seu sentimento.

É um projeto ambicioso e muito interessante, mas que peca ao tentar recriar uma obra que não precisa e nem deve ser recriada, somente revista. É diferente essas duas mazelas.
O terceiro ato, apesar de valido, principalmente para aqueles que não conhecem a historia original, representa uma especie de 'traição' ao original para aqueles que conhecem as aventuras do Pequeno.
O essencial ficou visível aos olhos e não se mostrou muito bem.

Assim, o Pequeno Príncipe é uma experiencia valida pela sua beleza, pela historia base que carrega, mas que frusta por demonstrar que afinal de contas, não importa quão lindo visualmente ele possa ser, ele ainda assim, é uma animação feita para crianças, mas criada por adultos.

É, adultos são tão chatos... Eles nunca entendem...

Ps: A raposa - em todas as suas faces - é a coisa mais querida do mundo, como não poderia deixar de ser.


Trailer:



Ficha Técnica:

Gênero: Animação
Direção: Mark Osborne
Roteiro: Irena Brignull
Elenco: (vozes) Albert Brooks, Benicio Del Toro, Bud Cort, Jacquie Barnbrook, James Franco, Jeff Bridges, Jeffy Branion, Mackenzie Foy, Marcel Bridges, Marion Cotillard, Paul Giamatti, Paul Rudd, Rachel McAdams, Ricky Gervais, Riley Osborne
Produção: Alexis Vonarb, Aton Soumache, Dimitri Rassam
Fotografia: Kris Kapp











segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Resenha (breve): Beira Mar





'Eu sei quem eu sou 
Eu sei, eu sei,
eu sei, eu sei
Eu sei quem eu sou
Eu sei quem eu sou
Eu sei onde estou 
Eu sei quem eu sou"


Esse trecho faz parte de uma musica chamada ''NoPorn'' do grupo Xingu, e faz parte da trilha sonora do filme ''Beira Mar'', dirigido com competência pelos cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.
O filme foi selecionado para o 65º festival de Berlim.
Coloquei esse trecho, por que Beira Mar fala sobre a adolescência, e esta, como todos nós sabemos - ou saberão - se trata justamente da magia e do terror de tentar entender quem se é no mundo.
Pois bem, Beira Mar possui a competência de tratar do assunto de maneira despretensiosa, de maneira natural, e pra isso ocorrer, grande parte do mérito esta nos diálogos por vezes ate banais dos personagens e principalmente pela dupla de protagonistas - Mateus Almada e Mauricio José Barcellos -, que claramente são inexperientes em termos de segurança na atuação, mas que justamente por isso, se encaixam perfeitamente para a trama.

O filme é lindo esteticamente, uma fotografia que investe bastante em profundidades de campo, imagens turvas, movimentos dispersos de câmera, cores frias, que passam tanto o clima de monotonia quanto de apreensão própria dessa parte da vida. A adolescência não é fácil, não é colorida. Ela é profunda, é embaçada, é fria, ainda que tenha seus momentos de prazeres intensos e alegrias que permanecem pelo resto da vida. O som é algo que me incomodou bastante.
O problema de Beira Mar, é que ele demora dois atos inteiros para parecer se encontrar. Como se o filme usasse de metalinguagem extrema, parece ser um adolescência que inicia ditando seu ritmo, batendo no peito que sabe quem é, que se conhece, mas que ao longo da narrativa se confunde. Fala, fala, fala; mostra, mostra, mostra, mas não chega a lugar nenhum.

A sensação que fica é que não ha historia. Não ha trama. Parece que estamos vendo apenas momentos de dois adolescentes numa viagem. Só.

Isso se deve pelo fato, dos diretores terem escolhido o caminho inverso da máxima narrativa que se aprende no cinema, de que o filme precisa se justificar, se fazer entender ate o final de seu primeiro ato (por volta de 20/30 minutos de historia). Nada é explicado de inicio. Não sabemos qual o conflito que impulsiona aqueles dois garotos naquela viagem, naquele peso aparente que ambos carregam nos olhares que se desviam, nos silêncios que presenciam e protagonizam, no riso bobo, que logo vira melancolia e osmose. É visível que ambos possuem alguma carga emocional de conflito interno, que encontra um escape na amizade e intimidade que parecem ter um com outro. Mas, o que é? como é? onde é? quando é esse conflito?

Não nos deixam saber.

Se por um lado poderia ser um exercício interessante ainda mais pela temática proposta, no filme não funciona. E o mistério deixa de ser mistério que prende, para se tornar algo 'broxante' que enjoa e cansa. O filme possui 1 hora e 23 minutos de duração, mas a sensação que fica é que tem mais de duas horas.

O filme tem sido vendido como um filme ''adolescente com características gays.'' Titulo que faz com que haja uma especie de antecipação no espectador para que pelo menos se espere algo relacionado a isso. 

Percebe? 

O filme perde a oportunidade de desenvolver a complexidade que criou.
Mas, o terceiro ato, os momentos finais o filme dá show. Tudo que se esperava acontece, ele se justifica e brilha.

Mas, precisava de 1 hora de enrolação?
Enfim, um bom filme sobre descobertas da vida, que poderia ser mais, mas talvez ainda não seja maduro o suficiente.
BAH, recomendo!

Ps: O sotaque do sul é simplesmente fascinante 


Trailer:



FICHA TÉCNICA:

PAÍS DE ORIGEM: Brasil
ANO: 2015
DIREÇÃO: Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
ROTEIRO: Filipe Matzembacher e Márcio Reolon
FOTOGRAFIA: João Gabriel de Queiroz
MÚSICA: Felipe Puperi
DIREÇÃO DE ARTE: Manuela Falcão
PRODUÇÃO: Filipe Matzembacher, Márcio Reolon, Tainá Rocha








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